A MULHER: Parte 3 de 3
Muito recentemente, a propaganda
de televisão de uma grande marca mundial de automóveis tentava vender seu
produto ilustrando a mudança do papel social da mulher. Uma jovem com trajes de
executiva chegava em casa após um dia de trabalho e cumprimentava seu marido, o
qual estava ocupado preparando a refeição da família. Para surpresa desse
homem, que ‘’ comandava ‘’ a cozinha e cuidava de suas filhas, sua esposa o
presentearia com um carro novo. A partir dessa cena, rapidamente aqui descrita,
pode surgir a seguinte pergunta: esse comercial faria sentido décadas atrás?
Certamente que não. Contudo, essa resposta carece de uma explicação menos
simplista, e requer uma maior compreensão do que se chama de questões de gênero
e papeis sociais.
As diferenças sexuais sempre foram
valorizadas ao longo dos séculos pelos mais diferentes povos em todo o mundo.
Algumas culturas – como a ocidental – associaram a figura feminina ao pecado e
á corrupção do homem , como pode ser visto na tradição judaico-cristã. Da mesma
forma, a figura feminina foi também associada á ideia de uma fragilidade maior
que a colocasse em uma situação de total dependência da figura masculina, seja
do pai, do irmão ou do Mario, dando origem aos modelos de uma cultura patriarca
lista e machista. Assim, esse modelo sugeria a tutela constante das mulheres ao
longo de suas vidas pelos homens, antes e depois do matrimonio.
Aliás, o casamento enquanto ritual
marcaria a origem de uma nova família na qual a mulher assumira o papel de mãe,
passando das ‘’mãos’’ de seu pai para as de seu noivo, como se vê no ato de
cerimônia.
Mas como aqui já se abordou, se as
noções de feminilidade e masculinidade podem mudar o longo da historia conforme
as transformações sócias ocorridas, isto foi o que aconteceu na cultura
ocidental, berço do modo capitalista de produção. Com o surgimento da sociedade
industrial, a mulher assume uma posição como operária nas fabricas e
industrias, deixando o espaço domestico como único local de seu trabalho
diário. Se outrora a mulher deveria apenas servi o marido e aos filhos nos
afazeres domésticos, ou apenas se limitando ás tarefas no campo no caso das
camponesas européias, a Revolução Industrial traria uma nova realidade
econômica que a levaria ao trabalho junto ás maquina de tear. Obviamente, não
foram poucos os problemas enfrentados pelas mulheres, principalmente ao se
considerar o contexto hostil de um regime de trabalho exaustivo no inicio do
processo de industrialização e formação dos grandes centros urbanos.
Após um longo período de opressão
e discriminação, passagem do século XIX para o XX ficou marcada pelo
recrudescimento do movimento feminista, o qual ganharia voz e
representatividade política mais tarde em todo o mundo na luta pelos direitos
das mulheres, dentre eles o direito ao voto. Essa luta pela cidadania não seria
fácil, arrastando-se por anos. Prova disso esta no fato de que a participação
do voto feminista é um fenômeno também recente para a historia do Brasil.
Embora a proclamação da República tenha ocorrido em 1889, foi apenas em 1932
que as mulheres brasileiras puderam votar efetivamente. Esta restrição ao voto
e á participação feminina no Brasil seriam consequência do predomínio de uma
organização social patriarcal, na qual a figura feminina estava em segundo plano.
Mesmo com alguns avanços, ainda no início da segunda metade do século Xx, as
mulheres sofriam as consequências do preconceito e dos status de inferioridade.
Aquele modelo de avental e com bobs nos cabelos, no meio da cozinha, envolta
por liquidificador, batedeira, fogão, entre outros utensílios domésticos. Seria
apenas no transcorrer das décadas de 50, 60 e 70 que o mundo assistiria
mudanças fundamentais no papel social da mulher, mudanças estas significativas
para os dias de hoje. O movimento contracultural encabeçado por jovens (a
exemplo do movimento Hippie) transgressores dos padrões culturais ocidentais
outrora predominantes defendiam uma revolução e libertação sexual, quebrando
tabus para o sexo feminino, não apenas em relação á sexualidade, mas também no
que dizia respeito ao divórcio. Hoje as mulheres não ficam apenas restritas ao lar (como donas de casa), mas comandam escolas, universidades, empresas, cidades e, até mesmos, países, a exemplo da presidenta Dilma Roussef mulher a assumir o cargo mais importante da República. Dessa forma, se por um lado a inversão dos papeis sociais ilustrada pela campanha publicitária (citada no inicio do texto) de um automóvel esta em dissonância com um passado não tão distante, por outro lado mostra sinais de um novo tempo que já se iniciou. Contudo, avanços á parte, é preciso que se diga que as questões de gênero no Brasil e no mundo devem sempre estar na pauta das discussões da sociedade civil e do Estado, dadas a importância das defesas dos direitos e da igualdade entre os indivíduos na construção de um mundo mais justo.
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